Acredite: hoje completa-se meio século (!!!) da censura do antológico samba “Apesar de você”, de Chico Buarque. Ele já estava sendo cantado há uns 5 meses, por vozes lindas como as de Elizeth Cardoso e Clara Nunes, além da do próprio Chico. Vendera, no início de 1971, nada menos que 100 mil cópias de um disco “compacto simples” (bolachinha).
Chamado na censura da ditadura militar, que liberara a canção (toda censura é burra) e agora a proibia, Chico reforçou a versão corrente de que aludia à uma desilusão amorosa: “refere-se a uma mulher mandona, autoritária”. Dessa vez não colou. O general Médici, o mais sanguinário dos ditadores, não acreditou…
Acredite: os militares chegaram a invadir a gravadora e destruir milhares de discos, que também foram apreendidos nas lojas, e depois também destruidos.
Hoje tamanha estupidez e imbecilidade soam inacreditáveis. Mas, nesses tempos de imbecilidade e estupidez, com a crescente de truculência do topo do poder central do país e a “milicianização” da República, é bom ficarmos vigilantes. Tortura e censura nunca mais!
“Quando chegar o momento/ esse meu sofrimento/ vou cobrar com juros, juro!/ Todo esse amor reprimido/ esse grito contido/ esse samba no escuro/ Você que inventou a tristeza/ Ora, tenha a fineza/ de desinventar/ Você vai pagar e é dobrado/ cada lágrima rolada/ desse meu penar!”
Senhores do terror e da morte: APESAR DE VOCÊS, AINDA HAVEREMOS DE CANTAR MUITO, EM MULTIDÕES, A PLENOS E LIMPOS PULMÕES!!!
Foto de Ana Dias de Alencar