Na China e na Pérsia (atual Irã), muito antes do Cristianismo (que até hoje não tem muita força por lá), as camponesss pintavam os ovos das aves domésticas para dar de presente às crianças, quando chegasse a primavera. Alegria pra meninada e também esperança de boas colheitas.
Para os povos eslavos e germânicos, os coelhos, primeiros animaizinhos a sair da toca, após o longo e tenebroso inverno, eram o anúncio do renascimento primaveril da vida.
Coelho como símbolo da fertilidade, da deusa Ostara, ou Ostern, um pássaro que se transformava em lebre e depois, querendo amplitude e não só rapidez, voltava a voar. Daí veio Easter, Páscoa em inglês. A palavra na dialética da existência, que se multiplicava.
A lenda do coelho da Páscoa chega ao Brasil com os primeiros alemães no século XVIII. Mas se consolida mesmo no século XIX: a festa de Osterhoos. Os suíços acrescentam o chocolate, do cacau encontrado no México, tão energético quanto gostoso. Tudo tem sabor de vida, alegria e pureza infantis, celebração do dom de existir, re-existir, resistir.
Para os judeus, Pessach é a libertação do cativeiro do faraó, Moisés liderando seu povo contra a escravidão, na busca da terra prometida, de onde jorra leite e mel.
Para os cristãos, a vitória de Cristo sobre a alienação da morte, sobre os poderes terrenos da injustiça e do mal. Cristo, o Sol Invicto, Deus conosco, irmão. O redentor, luz dos povos!
Adélia Prado, poeta, cristã apaixonada, “dona Doida”, resumiu lindamente essa festa em “Ovos de Páscoa”:
O ovo não cabe em si, túrgido de promessa, a natureza morta palpitante.
Branco tão frágil, guarda um sol ocluso. O que vai viver espera.
Sejamos Páscoa, como desejam as gentes, ao longo dos séculos. Como é a natureza, da qual fazemos parte, em seu teimoso renascimento.
O Ressuscitado caminha no meio do povo, com tantos que, mesmo sob martírio, seguem o mandamento do Amor, ontem, hoje e sempre.