O general Braga Netto, recém empossado no Ministério da Defesa, exonerou os comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica. Foi a mando do ex-capitão Bolsonaro, mas não explicou as razões. Elas já estão vindo, por mais que se queira ocultar.
A Ordem do Dia sobre o que Braga Netto chama de “movimento de 31 de março 64” – o golpe empresarial-militar de 1º de abril, há 57 anos – ajuda a entender. Deve ter frustrado o presidente autocrata, incompetente e golpista. Mas não exime, claro, a alta oficialidade, bolsonarista raiz e enfiada até o talo no governo, das responsabilidades pelo abismo em que o país foi jogado.
Em 10 parágrafos, o ministro situa o golpe no contexto histórico da época (Guerra Fria), diz que havia base social pedindo a intervenção (“marchas” de rua, imprensa, igrejas, empresários, lideranças políticas e das Forças Armadas).
Omitindo trabalhadores rurais, urbanos e amplos setores populares que cobravam as Reformas de Base, Braga Netto diz que foi “interrompida a escalada conflitiva” e “assumida a responsabilidade de pacificar o país”. Não sem “desgastes”, destaca (muitos oficiais sabem dos de agora, com 6 mil fardados no desgoverno Bolsonaro, mas não largam o osso…).
Ele não diz, mas o “movimento”, apoiado pelo imperialismo dos EUA, foi para garantir o Brasil no mundo ocidental, capitalista, evitando qualquer mudança estrutural. E instaurou um longo período de truculência, censura, tortura e morte de adversários políticos.
Braga Netto destaca a Lei da Anistia, de 1979: “amplo pacto de pacificação, de convergência”, para uma “transição sólida, enriquecida com a maturidade do aprendizado coletivo”.
Óbvio que se trata de uma visão parcial, interessada. Mas suspeito que bem aquém do que Bolsonaro desejava. Os “novos desafios” que o ministro da Defesa reconhece “no novo cenário geopolítico” são as “questões ambientais, ameaças cibernéticas, segurança alimentar e pandemias”.
E concluiu destacando a “missão constitucional das Forças Armadas, (…) seguras de que a harmonia e o equilíbrio entre os Poderes preservarão a paz e a estabilidade em nosso país”.
Trocando em miúdos: a cúpula militar não desembarca do desgoverno mas não quer embarcar nos delírios golpistas de Bolsonaro. Não ficará “opinando” e ameaçando, como o antipresidente da marcha a ré pública queria, sobre a cena política, decisões do STF, do Congresso e de governadores e prefeitos. Não dará mais aval ao negacionismo no combate à terrível pandemia, como seu “camarada de armas” Pazuello, ordenança de Jair, fez.
É o que se deduz. A qualquer arroubo autoritário de setores da cúpula militar haverá forte reação. Os neofascistas estão mais isolados.
Bolsonaro adora armas e tem prazer em dar tiros. Mas tudo indica que o que armou, buscando sustentação para um autogolpe futuro, foi mais um tiro que saiu pela culatra.
Nani e o traço que revela bastidores