O SHOW DO POPULISTA DE EXTREMA-DIREITA

Ontem me dei ao trabalho de assistir, na íntegra, a “live” do homem que ocupa a presidência da República. Um espetáculo deprimente mas esclarecedor:

1) o cenário palaciano agora tem, no fundo, uma estante lotada de livros (que ele, certamente, jamais consulta, mas dá ares de pronunciamento de autoridade sábia);

2) sobre a mesa, o tom de improviso e espontaneidade: muitos papéis espalhados, que ele pega ao longo do “programa”, e sobre o qual faz rabiscos e anotações;

3) Bolsonaro sempre tem “convidados”: uma pequena plateia, com cerca de 15 a 20 pessoas, a quem ele volta e meia se refere (“e você, Pau de Arara?” “O que o Major pensa?”). Ontem até o jornalista Augusto Nunes estava entre os bajuladores, pelo que entendi;

4) Convida ministros, parlamentares ou “especialistas” do seu esquema, para chancelar suas “teses” e contradições (uma constante), além de responder perguntas pré-selecionadas de “gente comum”;

5) o discurso é “misto”: “descontraído”, com piadinhas – em geral machistas – e também grosseiro e agressivo (“ciúme de homem é foda”, disse ontem, referindo-se a governadores);

6) Bolsonaro usa e abusa do senso comum e da imagem de “autêntico”, passando a impressão de que fala o que vem na cabeça, e que, “corajoso”, nunca esconde a “verdade”, alternando com a condição de “vítima” (“todo dia apanho de todo mundo, pô!”);

7) o individualismo, o personalismo é gritante: eu, eu, eu. Não tem partido (diz-se agora quase “obrigado” a escolher um; ele que já passou por dez!), não tem projeto de governo, muito menos de Nação: “tento fazer o que posso, mas não deixam”;

8) O chefe, inseguro, reafirma sua condição de mando o tempo todo, mas se desresponsabiliza frente a qualquer problema: “a culpa é dos prefeitos, dos governadores – estão decretando estado de sítio! -, do Supremo, do Congresso”, diz, a respeito das urgentes e necessárias medidas restritivas para combater a Covid;

9) Bolsonaro mente descaradamente, a ponto de desafiar que provem que mencionou a Covid como “gripezinha” e que negligenciou o seu enfrentamento; ao mesmo tempo, insensível, insiste em criticar a “histeria” em relação à óbvia e dramática devastação;

10) demonstra indisfarçada preocupação com a queda de popularidade, partindo pra “guerra”, ou melhor, “briga de rua” (onde se sente à vontade), contra seus críticos e chamando Lula de “Carniça”. Vai piorar, podem anotar. Já induz ao golpe, à não admissão de derrota eleitoral ano que vem – a la Trump, seu idolo apeado do poder nos EUA.

Bolsonaro faz questão de informar que tem grande audiência. Deve ter mesmo, mas ninguém engana tanta gente o tempo inteiro. E repetiu que está ali para “fazer o que o povo quer”. Então, como as pesquisas agora indicam maioria rejeitando o seu governo…

Charge de Gilmar Fraga – Portal dos Jornalistas

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