Hoje, mais de um bilhão e trezentos milhões de cristãos do mundo inteiro estão ouvindo a passagem do Novo Testamento bíblico em que Jesus expulsa os vendilhões do templo (Jo 2, 13-15). Não deveria ser difícil entender.
Ação direta, contundente, radical: “no Templo, Jesus encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas sentados. Então fez um chicote de cordas e expulsou todos, junto com os animais; esparramou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas”.
O ato falava por si: o Templo não era lugar de comércio, de negócio, de ganhos. Nem de ofertas que os chefes religiosos de então entesouravam (foram esses que, articulados com os representantes do Império, prenderam, torturaram e mataram Jesus).
É uma traição à essência do cristianismo as igrejas se constituírem, ontem e hoje, como “meios de vida”, mercado da fé, aparatos “piedosos” de conformismo, exploração torpe da religiosidade simples das gentes. É abominável predicar e praticar que “templo é dinheiro”, ou um cínico “Jesus é o caminho, mas eu sou o pedágio”. Chicote nesses manipuladores hipócritas!
Jesus foi além. Ao ser interpelado pelos dirigentes do Templo, que não admitiram tamanha “violência” com seu “costume” de roubo, afirmou que o maior templo de Deus é o ser humano. O seu e os nossos corpos que, ainda que maltratados (e como o são, desde então!), têm a possibilidade de reconstrução, de ressurreição. Só o Espírito vivifica a matéria.
Deus não habita em prédios, mas em cada um de nós. O mundo, o planeta, é nossa casa de oração. Ninguém pode mercantilizá-lo e deteriorá-lo pela ganância acumuladora. Expulsemos, unidos e com a chama da fé, os que insistem em transformá-lo num covil de ladrões!
Quenti MATSYS (1466-1530), Antuérpia