Rio de janeiros, da exploração de Gonçalo Coelho e Fernão de Magalhães, em distantes 1502 e 1509, nas águas da Guanabara (“estuário amplo”) e na foz do rio Kari-oca (“casa de branco”). Rio dos tamoios originários, que, ainda donos do pedaço, davam os nomes.
Rio que foi França Antártica, dos homens de Bois-le-Comte e Villegaignon, e os nativos como bucha de canhão. Rio da disputa colonialista que se seguia ao “terra à vista”.
Rio pequeno acampamento militar, cercas que abrigavam 4 mil pessoas, cruzadistas acossados: “não temos como escapar, cercados à esquerda por índios bravios e à direita pelos piratas franceses, entre o mar agitado e a selva desconhecida”, lamentou o capitão Estácio de Sá. Ele próprio, sobrinho do governador-geral do Brasil (à época, não se falava em nepotismo), vitimado por uma flechada. Rio do conflito aberto.
Rio que vai crescendo pelo braço africano, entre as marcas do poder e da opressão. Da afeição que provoca e da feição que vai tomando, com seu povo da raça Brasil, ruidoso, sofrido, festeiro e criativo. Rio de Marias, Marins, Marielles, Malês.
Rio oficial, da Colônia, do Império e da República capital. Que foi se constituindo entre roubos e marginalizações. Rio da “Corte infame, corrupta e depravada” (Hipólito José da Costa denunciou, de Londres) e, antes, das propinas pedidas aos holandeses em busca do nosso açúcar, no século XVII, por Salvador de Sá – a oligarquia e seus desmandos continuados. Rio de Cabral e seus herdeiros…
Rio da marchinha de carnaval de 1954: “cidade que nos seduz, de dia falta água e de noite falta luz”. Rio que dribla o sofrimento no balanço do corpo. Rio de agora paradoxalmente sem carnaval, mas também com muitos dos seus 162 bairros, volta e meia, sem água e sem luz. Ainda sem o direito à cidade.
Rio da aguda pandemia, a capital que, proporcionalmente, mais teve perdas entre seus 6.718.903 habitantes. Logo chegaremos, tragicamente, às 20 mil mortes! Rio enlutado também pela violência cotidiana das armas letais. Rio perdido nas balas encontradas em corpos de jovens e infantis, a quem foi negado o direito de existir. Rio crispado.
Rio do mar azul e das duas maiores florestas urbanas do mundo, a da Pedra Branca e a da Tijuca. Rio que continua sendo, que continua lindo, apesar de tudo. Nosso Rio.
Rio que é retrato do Brasil, a quem, com Aldir Blanc (saravá, irmão!), Moacyr Luz e Paulo Cesar Pinheiro, evocando a voz eterna de Beth Carvalho, apelamos: “tira as flechas do peito do meu padroeiro, que São Sebastião do Rio de Janeiro ainda pode se salvar!”.
Kobra, “Etnias”: o maior grafite do mundo, na região portuária do Rio.
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